19 de agosto de 2014

Superlotação de Turistas


Com excesso de turistas, Ilha Grande terá tarifa de barcas mais alta e estuda controle da visitação
População e autoridades pensam em impor restrição de acesso nos moldes do sistema adotado em Fernando de Noronha

Passageiros no píer da Vila do Abraão, na Ilha Grande: segundo o subprefeito Ivan Neves, o turismo está sem controle. Moradores e comerciantes reclamam da superlotação e do lixo deixado pelos visitantes.


RIO — A Ilha Grande ficou pequena para a quantidade de visitantes que vem recebendo nos últimos anos. Num domingo de sol do verão passado, chegaram a desembarcar 20 mil pessoas no local, quase o dobro da população de lá, calculada em 12 mil moradores. Nesse dia da semana, o fluxo de turistas tem sido intenso até mesmo na baixa temporada. Alguns culpam a redução do valor da passagem das barcas, depois de um período de tarifas elevadas. Outros responsabilizam operadoras de turismo, que levam passageiros para a ilha com embarcações velozes e horários frequentes. O fato é que a população e autoridades já estudam como impor um limite à visitação, nos moldes do sistema adotado em Fernando de Noronha, onde há um rígido controle de acesso.

O subprefeito da Ilha Grande, Ivan Marcelo Neves, faz o alerta:

— Estamos diante de uma bomba-relógio que pode explodir no próximo verão.

Uma iniciativa do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostra que a preocupação com o paraíso ecológico não é de hoje. Há dois anos especialistas estudam a capacidade da infraestrutura do lugar, para fazer o ordenamento turístico e definir o modelo de gestão. O trabalho está em fase de finalização e foi acompanhado por representantes das comunidades locais, da prefeitura de Angra e do governo estadual.

Autoridades municipais também já estão agindo. A Fundação de Turismo de Angra dos Reis (TurisAngra), por exemplo, em conjunto com as prefeituras de Mangaratiba e Paraty, vai cadastrar até novembro as embarcações que partem dos três municípios levando visitantes à ilha. São tantas que fugiram ao controle. A ideia é limitar o número de barcos.

NÚMERO DE BARCOS SERÁ LIMITADO

A presidente da TurisAngra, Sílvia Rubio, acredita que, só em Angra, cerca de 200 escunas ofereçam passeios à Ilha Grande:

— Vamos estabelecer um número máximo de embarcações, que receberão um selo de turismo legal.

Escuna em praia da Freguesia de Santana, uma das preferidas dos turistas.

Engenheiro sanitarista, o subprefeito diz que primeiro é preciso tornar os serviços públicos eficientes:

— Abraão, Araçatiba e Provetá são as regiões mais adensadas. Abraão, por exemplo, tem esgoto canalizado e jogado no emissário, a um quilômetro de distância, mas não é tratado. Nossa oferta de água também tem limite. E, apesar de todos esses problemas, estamos recebendo uma demanda gigantesca (de visitantes), sem comando e sem controle.

Comerciantes dizem ainda que o perfil do turista mudou.

— A maioria dos turistas passa o dia, não consome nada no comércio e vai embora sem levar o lixo — reclama Aglais Siqueira Bego, de 54 anos, dona de restaurante na Vila do Abraão há 20 anos.

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes (Agetransp) autorizou a volta, em 6 de setembro, da cobrança da tarifa turística, suspensa em 2012. Em qualquer dia da semana, os turistas que fizerem de barca os trajetos Mangaratiba-Ilha Grande e Angra-Ilha Grande pagarão R$ 14, em vez dos R$ 4,80 atuais. A agência atendeu ao argumento das prefeituras de Angra e de Mangaratiba, segundo as quais, após a suspensão da tarifa mais alta cobrada nos fins de semana, a visitação ficou desordenada. De acordo com a Agetransp, entre março e dezembro de 2012, houve um aumento de 42,5% no número de visitantes. Moradores e trabalhadores da ilha, com Bilhete Único, viajam de graça.

A superlotação não agrada aos moradores. Jeferson da Silva, de 50 anos, nascido na ilha, diz que o lugar não tem condições de receber tanta gente:

— Tem esgoto vazando nas praias do Abraão, onde os turistas mergulham sem saber desse problema. Primeiro, precisamos melhorar as condições do lugar, para depois receber os visitantes.

ASSALTO E AMBULANTES ILEGAIS

Outros problemas surgem com a superlotação. Moradores e comerciantes contam que recentemente um homem foi preso ao assaltar um turista. Além disso, o comércio reclama da proliferação de ambulantes ilegais em Abraão.

— É um turismo predatório, que não traz divisas e deixa muitos problemas — diz o subprefeito.

Valdir Siqueira, presidente do Conselho Para o Desenvolvimento Sustentável da Baía da Ilha Grande, também defende a ideia de se fixar um limite de visitantes, como em Fernando de Noronha, mas ressalta as diferenças:

— Fernando de Noronha é mais fácil de controlar porque a maioria dos turistas chega de avião.

Para Sandro Muniz, diretor do Parque Estadual da Ilha Grande, a situação exige mesmo medidas mais amplas que aumentar o valor da passagem da barca:


— O projeto de ordenamento turístico visa a melhorias na comunidade. E ordenar não significa proibir. Ordenar é distribuir melhor o turismo na ilha. Determinadas praias já estão no limite, principalmente na capacidade de fornecimento de água e coleta de esgoto.

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