Com excesso de turistas, Ilha Grande terá tarifa de barcas mais alta e estuda
controle da visitação
População e autoridades pensam em impor restrição de acesso nos
moldes do sistema adotado em Fernando de Noronha
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Passageiros no píer da Vila do
Abraão, na Ilha Grande: segundo o subprefeito Ivan Neves, o turismo está sem
controle. Moradores e comerciantes reclamam da superlotação e do lixo deixado
pelos visitantes.
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RIO — A Ilha Grande
ficou pequena para a quantidade de visitantes que vem recebendo nos últimos
anos. Num domingo de sol do verão passado, chegaram a desembarcar 20 mil
pessoas no local, quase o dobro da população de lá, calculada em 12 mil
moradores. Nesse dia da semana, o fluxo de turistas tem sido intenso até mesmo
na baixa temporada. Alguns culpam a redução do valor da passagem das barcas,
depois de um período de tarifas elevadas. Outros responsabilizam operadoras de
turismo, que levam passageiros para a ilha com embarcações velozes e horários
frequentes. O fato é que a população e autoridades já estudam como impor um
limite à visitação, nos moldes do sistema adotado em Fernando de Noronha, onde
há um rígido controle de acesso.
O subprefeito da Ilha
Grande, Ivan Marcelo Neves, faz o alerta:
— Estamos diante de
uma bomba-relógio que pode explodir no próximo verão.
Uma iniciativa do
Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostra que a preocupação com o paraíso
ecológico não é de hoje. Há dois anos especialistas estudam a capacidade da
infraestrutura do lugar, para fazer o ordenamento turístico e definir o modelo
de gestão. O trabalho está em fase de finalização e foi acompanhado por
representantes das comunidades locais, da prefeitura de Angra e do governo
estadual.
Autoridades
municipais também já estão agindo. A Fundação de Turismo de Angra dos Reis
(TurisAngra), por exemplo, em conjunto com as prefeituras de Mangaratiba e
Paraty, vai cadastrar até novembro as embarcações que partem dos três
municípios levando visitantes à ilha. São tantas que fugiram ao controle. A
ideia é limitar o número de barcos.
NÚMERO DE BARCOS SERÁ LIMITADO
A presidente da
TurisAngra, Sílvia Rubio, acredita que, só em Angra, cerca de 200 escunas
ofereçam passeios à Ilha Grande:
— Vamos estabelecer
um número máximo de embarcações, que receberão um selo de turismo legal.
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Escuna em praia da Freguesia de
Santana, uma das preferidas dos turistas.
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Engenheiro
sanitarista, o subprefeito diz que primeiro é preciso tornar os serviços
públicos eficientes:
— Abraão, Araçatiba e
Provetá são as regiões mais adensadas. Abraão, por exemplo, tem esgoto
canalizado e jogado no emissário, a um quilômetro de distância, mas não é
tratado. Nossa oferta de água também tem limite. E, apesar de todos esses
problemas, estamos recebendo uma demanda gigantesca (de visitantes), sem
comando e sem controle.
Comerciantes dizem
ainda que o perfil do turista mudou.
— A maioria dos
turistas passa o dia, não consome nada no comércio e vai embora sem levar o
lixo — reclama Aglais Siqueira Bego, de 54 anos, dona de restaurante na Vila do
Abraão há 20 anos.
A Agência Reguladora
de Serviços Públicos Concedidos de Transportes (Agetransp) autorizou a volta,
em 6 de setembro, da cobrança da tarifa turística, suspensa em 2012. Em
qualquer dia da semana, os turistas que fizerem de barca os trajetos
Mangaratiba-Ilha Grande e Angra-Ilha Grande pagarão R$ 14, em vez dos R$ 4,80
atuais. A agência atendeu ao argumento das prefeituras de Angra e de
Mangaratiba, segundo as quais, após a suspensão da tarifa mais alta cobrada nos
fins de semana, a visitação ficou desordenada. De acordo com a Agetransp, entre
março e dezembro de 2012, houve um aumento de 42,5% no número de visitantes.
Moradores e trabalhadores da ilha, com Bilhete Único, viajam de graça.
A superlotação não
agrada aos moradores. Jeferson da Silva, de 50 anos, nascido na ilha, diz que o
lugar não tem condições de receber tanta gente:
— Tem esgoto vazando
nas praias do Abraão, onde os turistas mergulham sem saber desse problema.
Primeiro, precisamos melhorar as condições do lugar, para depois receber os
visitantes.
ASSALTO E AMBULANTES ILEGAIS
Outros problemas
surgem com a superlotação. Moradores e comerciantes contam que recentemente um
homem foi preso ao assaltar um turista. Além disso, o comércio reclama da
proliferação de ambulantes ilegais em Abraão.
— É um turismo
predatório, que não traz divisas e deixa muitos problemas — diz o subprefeito.
Valdir Siqueira,
presidente do Conselho Para o Desenvolvimento Sustentável da Baía da Ilha
Grande, também defende a ideia de se fixar um limite de visitantes, como em
Fernando de Noronha, mas ressalta as diferenças:
— Fernando de Noronha
é mais fácil de controlar porque a maioria dos turistas chega de avião.
Para Sandro Muniz, diretor do Parque Estadual da Ilha Grande, a situação
exige mesmo medidas mais amplas que aumentar o valor da passagem da barca:
— O projeto de
ordenamento turístico visa a melhorias na comunidade. E ordenar não significa
proibir. Ordenar é distribuir melhor o turismo na ilha. Determinadas praias já
estão no limite, principalmente na capacidade de fornecimento de água e coleta
de esgoto.